Dando continuidade na nossa série sobre pessoas com necessidades especiais em Orlando, hoje a Denise divide conosco a estória da sua mãe, Elizabete, que tinha feito um transplante renal recentemente, com diabete e cadeirante em função de uma isquemia. Veja aqui todos os relatos.
Apesar de ser capaz de andar, Elizabete não consegue ficar muito tempo em pé, nem fazer grandes percursos. Eles alugaram um carrinho motorizado, precisaram embarcar com seringas e muitos remédios e ficaram num hotel com banheiro adaptado. E hoje vão contar aqui como foi essa aventura!
Como é o nome da pessoa e quais são as necessidades especiais/ problemas de saúde que ela possui?
Trata-se da minha mãe Elizabete. Ela tem 57 anos (desculpe, Mamãe, por ter falado sua idade… rs ), é transplantada renal, diabética e no momento da viagem ela se encontrava cadeirante devido a uma isquemia que deixou os membros inferiores fragilizados.
Muitas pessoas acham que a saúde de alguém que fez transplante é automaticamente restaurada no momento em que se recebe o novo órgão, todavia, é preciso acompanhamento médico constante e normalmente se toma imunossupressores (drogas que baixam a imunidade do corpo pra evitar a rejeição do organismo ao novo órgão) para o resto da vida. Foi ótimo vê-la se livrar da hemodiálise, porém os imunossupressores a deixam suscetível a doenças oportunistas e uma simples gripe pode levar a uma internação.
Quais foram os principais preparativos pré-viagem?
Nos preparativos da viagem precisei pensar, infelizmente, como faríamos se ela ficasse doente e como poderia ser o tratamento. Buscamos um seguro viagem que tivesse uma quantia razoável para doenças e condições preexistentes (o que não seria suficiente visto que os valores para este tipo de atendimento é restrito mesmo nos seguros mais caros) e volta emergencial caso as coisas se complicassem, afinal seria proibitivo tratá-la nos EUA.
Contratamos o Allianz Travel América TOP e felizmente não precisamos usar. Como disse, escolhi por causa do valor para doença pré existente (que mesmo sendo pouco, era maior do que o oferecido por outros) e também a repatriação médica.
Ela pegou receita de TODOS os remédios que ela toma regularmente, além dos que ela tomaria em caso de emergência e um laudo do nefrologista em inglês e espanhol, onde ele falava sobre a sua condição, tratamentos e proibições. Ela passou uma noite separando, contando e organizando a medicação que incluía um pequeno isopor com bolsa de gelo em gel pra manter a integridade da insulina (diabetes devido à fragilidade renal), álcool em gel, agulhas e seringas.
Segundo orientações de alguns sites, os medicamentos deveriam estar sem a caixa e organizados em embalagens transparantes, sendo caixinhas ou saquinhos ziploc e quando organizamos tudo, eles ocuparam um lado todo de uma mala de mão tradicional de rodinhas.
As seringas também foram na mala de mão, assim como álcool em gel (frasco pequeno) e algodão. Ela levou dois tipos de seringa e os dois tipos tem agulhas pequenas e finas. Seringas estilo canetas e tradicional. Só no embarque em Campinas é que perguntaram se tinha algo inflamável, substâncias proibidas e relatamos o álcool, as seringas e o uso. Embarcamos e desembarcamos sem problemas.
Eu realmente estava preocupada com isso; me imaginei passando algumas horas dentro da temida salinha nos Estados Unidos…
Enfim, nos preparamos da melhor forma possível e com pensamento positivo, embarcamos rumo a Orlando.
Quem viajou junto com ela?
Eu, Denise e meu marido Eduardo.
Como foi o voo? Eles estavam preparados para atender as necessidades da pessoa? Como ela reagiu ao voo? Foi a primeira vez que viajou de avião / voo longo?
Viajamos pela Azul, que estava iniciando suas operações internacionais num voo RJ – Orlando com conexão em Campinas. Não era a primeira vez que ela andava de avião na condição de cadeirante, mas antes só tinham sido voos domésticos e não temos boas histórias pra contar, pois normalmente há problemas no embarque e na devolução da cadeira de rodas.
Chegamos com antecedência no aeroporto e fomos encaminhados para a fila especial. Informamos que ela precisava de assistência e que seria importante sentar próximo ao banheiro visto que ela tinha mobilidade reduzida, apesar de conseguir dar alguns passos. No trajeto RJ – SP os assentos foram no final da aeronave porque o voo estava cheio. O embarque foi remoto, com elevador, porém a entrada foi pela porta dianteira e mesmo com a ajuda do comissário de bordo, super gentil, ela sofreu um pouco para caminhar até o fundo do avião. Na segunda parte e a mais longa da viagem, o embarque foi feito por finger (aquele corredor conectado ao avião utilizado para embarque e desembarque) e ela foi posta na primeira fileira, com bastante espaço para as pernas e próximo ao banheiro. Como nosso assento não era próximo ao dela os comissários é que a ajudaram durante o voo.
Foi um voo diurno e chegamos em Orlando no final na tarde. A cadeira de rodas não estava no finger, mas uma pessoa da operação da Azul em Orlando trouxe uma cadeira temporária (super larga, e olha que não somos magrinhas) e para nossa felicidade, surpresa e gratidão, o funcionário entregou a cadeira dela antes de passarmos pela imigração (isso NUNCA aconteceu no Brasil).
Passamos pelos raios X, por detectores, pelas revistas, imigração sem problemas e sem perguntas. o/
A volta foi basicamente a mesma coisa exceto que em Campinas demoraram uns 50 minutos para devolverem a cadeira e tínhamos prazo por causa da conexão.
Qual foi a hospedagem escolhida? Quais foram as vantagens ou limitações que encontraram nessa opção?
Buscamos uma opção econômica, segura e limpa porque os imunossupressores baixam a imunidade e uma crise alérgica pode rapidamente progredir para uma pneumonia. O fato da maioria dos hotéis terem carpete e estarmos indo numa época mais fria, me deixava receosa. Pesquisando pelo Trip Advisor, peguei todas as informações e escolhi o Holiday Inn Celebration, fiz a reserva por um portal de viagens e entrei em contato diretamente com o hotel por e-mail pra garantir um quarto com banheiro adaptado. O quarto era grande, acarpetado mas sem cheiro de mofo e o banheiro com barras no chuveiro/banheira, vaso sanitário e pia o que permitia a autonomia e privacidade da minha mãe. O quarto foi limpo todos os dias.
Alimentação foi um problema? Se sim, como contornaram?
Nós estávamos viajando, nos divertindo e algumas estrupulias foram permitidas, porém fomos no Walmart e compramos sucos, frutas, barrinhas integrais, pães, frios, iogurtes para tomarmos café e levarmos algo para os parques, tanto pela economia quanto para fugir de fastfoods cheios de sódio e açúcares. Mesmo comendo em restaurantes “rápidos” buscávamos um prato mais nutritivo tipo carne com purê e/ou legumes e bebidas diet cujas opção é Coca Light ou Zero .
Como foi o acesso aos parques? Estacionamento, acessibilidade, benefícios… Receberam o cartão preferencial? Como foi para retirá-lo e que benefícios ele oferecia? Foi importante para vocês?
Quem é cadeirante no Brasil sabe as limitações que isso significa e foi uma delícia ir para um lugar onde isso não é um “problema”.
Alugamos uma motinho elétrica numa loja próxima ao hotel e fomos buscá-la no dia seguinte à nossa chegada pela manhã antes de irmos ao primeiro parque, o Magic Kingdom. A loja entrega no hotel, mas como era perto e eu não queria perder tempo esperando para poder ir logo pro parque e fomos buscar – custou 125 doláres a semana. A atendente mostrou como funcionava toda a operação do carrinho, a colocamos no porta-mala da minivan e partimos para diversão.
Estacionamos, montamos a motinhos e minha mãe seguiu o fluxo de outras motinhos e pais empurrando carrinhos de bebês enquanto que eu e o meu marido fomos de trenzinho. Pegamos nossos ingressos e seguimos de monorail, que tem áreas próprias para cadeirantes e este tipo de veículo.
No parque fui ao Guest Relations e um rapaz em espanhol me informou que como ela estava numa motinho elétrica, ela não tinha nenhum tipo de prioridade. Aos cadeirantes regulares é oferecido uma espécie de passaporte aonde se marca horários para ir nas atrações.
Fomos ao restaurante Be our Guest, e essa foi a única coisa que conseguimos fazer no MK antes de irmos pro Hollywood Studios onde tínhamos fastpass agendados. Ao chegar a nossa vez, perguntaram se minha mãe podia andar, falamos que sim então indicaram um lugar para estacionar o carrinho e entrar, porém não contávamos com a fila dentro do castelo.
Da entrada do restaurante até a mesa, havia uma fila ainda, nós ficamos em pé com minha mãe se apoiando na gente, depois tivemos que parar na estação de pedidos e só aí chegamos na mesa. Foram uns 15 minutos que foram um pouco complicados pra ela e para nós, que estávamos servindo de suporte, principalmente por que vimos pessoas com motinhos circulando pelo restaurante.
Na atração de Star Wars aconteceu a mesma coisa: “ela consegue andar?” – “sim, um trecho pequeno. o caminho é pequeno?” “É sim, pode ir.” O caminho da fila tinha até uma subidinha! E as pernas da minha mãe foram bastante exigidas. Depois disso ficamos ligados e pedíamos uma cadeira de rodas. Às vezes tínhamos de esperar uma cadeira vagar ou buscarem de outro lugar, mas nem demorava muito.
Os cadeirantes que usam motos elétricas ficam na fila como qualquer pessoa, porém na entrada das atrações os funcionários perguntam se a pessoa consegue andar. Ao respondermos sim, falavam pra deixar o carrinho estacionado do lado de fora e seguir na fila interna das atrações à pé. O problema é que o percurso na maioria das vezes não é pequeno e se tornava cansativo. Então é melhor falar que não consegue andar que eles trazem uma cadeira de rodas quando a moto não entra.
Usar o transporte da Disney também foi outro momento de glória ao ver o respeito com que os cadeirantes são tratados: os ônibus abaixam, tem uma rampa e cadeirantes e motinhos são postos e presos no ônibus e depois as demais pessoas entram. Lindo!
Nas atrações normalmente ela tinha que deixar o “possante” e ser transferida pra uma cadeira de rodas que a levava até o local propriamente dito da atração. A maioria dos simuladores e montanhas-russas em todos os parques foi assim. Teatros e alguns cinemas dava pra entrar com a motinho, assim como restaurantes e lanchonetes dos parques. Fora dos parques, o carrinho ficava na recepção dos restaurantes.
Na sua opinião como é o atendimento a pessoas com necessidades especiais? Esse atendimento é igual em todos os parques?
Os parques da Disney tiraram os benefícios aos cadeirantes depois de várias denúncias e casos de pessoas que estavam alugando cadeirantes para ter prioridade, todavia são bastante cuidadosos no trato das pessoas com necessidades especiais. No Epcot ficamos numa área exclusiva para cadeirantes para assistirmos aos fogos. Ótima visibilidade e os acompanhantes também ficam na área.
Já nos parques da Universal o cadeirante ou idoso (e seus acompanhantes), mesmo estando na motinho, pode entrar nas atrações por uma fila própria, menor e mais rápida.
Minha mãe levava na cestinha do carrinho uma sacola com o isoporzinho com as seringas e insulina e em todos os parques, na hora da vistoria, perguntavam o que era, respondíamos que era para diabetes e passávamos sem problemas.
Acesso a banheiros foi um problema? Se sim, como contornaram?
Banheiros espaçosos e preparados; zero problema nessa área.
Deixaram de fazer alguma atração ou algum programa em função da necessidade da pessoa? Por que?
Não deixamos de fazer nada. O que o tempo nos permitiu fazer, fizemos e nos divertimos.
O que vocês fizeram e que não recomendam para pessoas com a mesma necessidade? Por que?
Se a pessoa tem dificuldade para andar, mesmo que consiga ficar em pé, não informe que consegue. Em algumas atrações nos perguntaram isso, como mencionei, e ela andou muito mais que ela conseguia no percurso de fila e de espera para entrar no carrinho. Peça uma cadeira, pois pode ser cansativo.
Qual foi a forma de locomoção escolhida? Atendia as necessidades de vocês?
Ainda no aeroporto de Orlando pegamos o nosso carro. Tínhamos reservado um midsize e na hora foi nos oferecido, por um pouco a mais, uma minivan, o que foi uma decisão acertada devido a nossas malas, cadeira de rodas, nós três e, posteriormente, a motinho elétrica.
Esse carro atendeu plenamente nossas necessidades, porém a entrada da minha mãe no veículo era um pouco difícil pois o carro era alto e não tinha degrau então ela tinha que se segurar nos e dar um impulso para conseguir se sentar. Verifiquem isso no momento do aluguel.
Quanto à motinho elétrica ela gostou tanto que queria trazer para o Brasil mas tive que tirar isso da cabeça dela porque, infelizmente, nossas cidades não estão preparadas para isso e se tornaria inútil
O que ela mais gostou?
Ela gostou de tudo, TUDO MESMO, mas principalmente da cortesia e do cuidado com os cadeirantes.
E o que menos gostou?
Acho que foi de mim quando chamava a atenção dela pra olhar pra frente, impossível diante de tanta coisa legal, e pedia ir mais devagar pra não atropelar ninguém.
Que recomendações ou conselhos vocês dariam para pessoas na mesma situação?
Se organizem: procure um bom seguro de viagem, separem toda medicação e coloque um pouco a mais, peguem um quarto adaptado e aluguem a motinho elétrica porque os parques são grandes e cansativos para ainda ter que empurrar um adulto numa cadeira de rodas. Teve momentos que senti invejinha do carrinho dela…
Para diabéticos viajantes recomendo a leitura desse artigo.
Obrigada, Denise e Elizabete, por dividirem conosco essa experiência e por ajudarem outras pessoas nas mesmas condições.
Você alguém na família que já foi para Orlando e possui alguma necessidade especial? Conte também sua experiência e ajude outras famílias. Entre em contato por email: contato@andrezadicaeindicadisney.com.br
Respostas de 6
Estou procurando muito por informações sobre pessoas com necessidades especiais e de longe, aqui encontramos as melhores dicas. Vamos em setembro, vamos alugar um carrinho motorizado e tenho uma grande dúvida. A bateria agüenta um dia inteiro de parque? Aproximadamente 12h? Senão há lugar no parque p recarregar? Ou se acabou a bateria temos q carregar p todo lado? Nos sites encontro a bateria dura de 6 a 8h, mas não sei se é utilizando sem paradas. Gostaria de mais informações as sobre isso
Eliane,
Sempre vemos os carrinhos nos parques e nunca vi ninguém recarregando, por esse motivo acredito que a bateria seja de 6 a 8 horas em uso.
Ao retornar caso esteja interessada em dividir sua experiência conosco será bem vinda.
Abraços e Obrigada
Oi Andreza, é possivel parar na vaga normal e ir dirigindo a ECV até a entrada do parque ou o monorail?
Outra duvida é se a ECV cabe na mala de um carro normal?
Obrigada
Oi,
Manuela
É possivel sim ou de Monorail ou de barco (ferry boat).
Fico a disposição
Abraços e Obrigada
Oi, Andreza, a Elizabete teria como disponibilizar o contato a empresa que ela alugou a ECV? Minha mãe tem uma situação bem semelhante à dela e vamos em janeiro pra lá, por isso preciso alugar uma.
Obrigada pelo blog, pela série de posts sobre pessoas com deficiência, tem nos ajudado MUITO e tem deixado minha mãe ainda mais tranquila em relação ao que vamos encontrar lá.
Oi,
Vanessa
Tenho um fornecedor indicado pelo Visit Orlando é a K&M Rentals, segue abaixo os contatos:
Fone 407-363-7388
http://www.km-rentals.com
Fico a disposição
Abraços e Obrigada