Mais um relato de pessoas com necessidades especiais em Orlando. Veja aqui todos os relatos. Hoje vamos conhecer a Mariana, que tem 33 anos e é portadora de Hipertensão Intracraniana Idiopática, síndrome que causa muita dor e que não permitia que ela ficasse de pé nas filas. Com isso, Mariana recebeu o cartão fura-fila em todos os parques.
Além disso, a doença pode causar a perda da visão. Com medo de adiar a viagem e de não poder enxergar tudo, Mariana resolveu realizar o seu sonho. Hoje ela conta como foi a viagem e o respeito que sentiu, mesmo não demonstrando ter nenhuma deficiência. Mariana, conte-nos sua experiência.
Como é o seu nome e quais são as necessidades especiais/ problemas de saúde que possui?
Meu nome é Mariana. Tenho 33 anos. Tenho Hipertensão Intracraniana Idiopática. Tive uma meningite viral que resultou num aumento indiscriminado na produção de líquor encefálico. Desde 2008 luto contra estra síndrome. Em 2009 coloquei uma válvula de derivação para alívio da dor, passei muito sufoco, internei muitas vezes e hoje em dia, apesar de sentir muita dor (tomo medicação para dor diariamente), consigo fazer mestrado e tentar levar uma vida “normal”. Sonhava em ir para Disney desde muito cedo.
Atualmente estou tendo algumas alterações visuais (a síndrome que tenho pode levar à cegueira) e decidi de uma vez por todas realizar meu sonho enquanto conseguisse ver todos os encantos que a Disney oferece! O meu maior medo sempre foi o longo tempo de voo. Minha segunda preocupação eram as filas. Imaginava ir somente para olhar tudo, pois sabia que jamais conseguiria enfrentar as filas para as atrações! Assim que comprei o pacote fiz contato com os parques e consegui viver um sonho! Por alguns dias esqueci de TUDO e vivi a Magia Disney!
Quem viajou junto com você?
Minha prima.
Como foi o voo? Eles estavam preparados para atender as necessidades? Como reagiu ao voo? Foi a primeira vez que viajou de avião / voo longo?
Eu costumo andar de avião seguidamente. Já passei mal duas vezes (dor de cabeça muito forte). Nunca havia feito um voo internacional tão longo. Moro no Sul e já fiz viagens ao nordeste com conexão e sempre chego no destino com muita dor e cansaço. O longo tempo no voo era um dos meus maiores medos. Porém, me surpreendi. Foi muito tranquilo. Fui de Copa Airlines em um voo Porto Alegre–Panamá direto e Panamá–Orlando. Os voos da Copa Panamá–Orlando vão relativamente vazios e pude me esticar em dois bancos (viajei na classe econômica). Cheguei com dor de cabeça e cansaço, mas nada absurdo.
Qual foi a hospedagem escolhida? Quais foram as vantagens ou limitações que encontraram nessa opção?
Hospedamos no All Star Movies Resort, a vantagem é que pode-se usar o Magical Express, um ônibus extremamente confortável que faz o transfer do aeroporto aos resorts, sem cobrar por isso.
Alimentação foi um problema? Se sim, como contornaram?
Minha síndrome não é afetada pela alimentação. Foi um problema pois não estava acostumada com o cardápio que eles oferecem, mas essa é uma queixa geral, independente de ser doente ou não.
Como foi o acesso aos parques? Estacionamento, acessibilidade, benefícios… Receberam o cartão preferencial? Como foi para retirá-lo e que benefícios ele oferecia? Foi importante para vocês?
No Brasil eu fiz contato com os diferentes parques que iria visitar (Disney, SeaWorld e Universal). Meu primeiro parque foi o Epcot. Lá me dirigi ao Guest Service do parque e cadastrei minha MagicBand ao sistema DAS (Disability Access Service) onde tiraram uma foto minha e inscreveram o nome da minha acompanhante (no caso todas as pessoas que estiverem junto com a pessoa com necessidade). Fui munida de diversos laudos e receitas médicas para comprovar minha síndrome (já que visualmente eu não tenho nada). Não pediram nada. Apenas o que eu tinha e qual a minha limitação (para eles saberem que tipo de acesso você precisa – No meu caso, minha limitação maior é permanecer longos tempos em pé nas filas).
Na Universal pediram meu passaporte e tive que assinar um papel, colocando dados como nome, endereço e telefone. Lá, ganhei um cartão informando meu acesso prioritário e me perguntaram se eu precisava de ajuda para subir escadas ou carrinhos de transporte!
Cada atração tem um sistema diferente, mas via de regra ele funciona como um FastPass+ infinito. Você vai na atração desejada, diz que possui o DAS na pulseira, ele lê a pulseira, vê a sua foto. Se o brinquedo está “vazio” você passa direto por uma fila em separado (para FastPass e Disability) e logo entra na atração. Se o brinquedo é muito procurado, ele marca o horário que você deve chegar, porém, você só pode agendar uma atração por vez. Via de regra personagens não possuem acesso facilitado para adultos (eles justificam que personagens são para crianças), então exceto os personagens com sistema de FastPass+ (Exemplo: Mickey no Magic Kingdom), eu tive que ficar nas filas.
Eu não tive experiência em brinquedos muito procurados pois não consigo andar em nada muito radical (tipo montanha russa) mas acredito que a forma de acesso é a mesma. Na Universal ganhei num cartão; nele tinha um código de barras onde informava o tipo de acesso que ganhei. Eles liam o código e me deixavam passar! Eu entrava pela fila do Express. No SeaWorld eu recebi uma folha de oficio impressa.
Na sua opinião como é o atendimento a pessoas com necessidades especiais? Esse atendimento é igual em todos os parques?
O respeito é algo fundamental. Em algumas atrações pude sentar nos assentos reservados (Rei Leão no Animal Kingdom, Blue Horizons e Shamu Stadium no SeaWorld), como não aparento, poderiam me questionar porque estava sentada lá (algo comum no Brasil). Mas não… Eu ia, pedia o acesso, sentava, assistia e ia embora, feliz, pois me sentia incluída! O atendimento não é o mesmo, pois como falei anteriormente, depende da procura do brinquedo! Mas a cordialidade e resolução de problemas foi igual em todos.
Deixaram de fazer alguma atração ou algum programa em função da necessidade? Por que?
Montanhas-russas, eu não fui mais por medo, mesmo. Eu uso uma válvula na coluna que drena o excesso de líquido do crânio ao peritônio e tive medo dela deslocar ou eu ficar muito tonta. Entrei errado em um simulador e fiquei muuuuuuito tonta. Então, mesmo com vontade, preferi não arriscar!
O que vocês fizeram e que não recomendam para pessoas com a mesma necessidade? Por que?
Sempre pergunte na porta da atração do que ela se trata, se tem movimentos bruscos ou algo parecido. Use palavras chave. Simuladores costumam ser violentos.
Qual foi a forma de locomoção escolhida? Atendia as necessidades de vocês?
Dentro da Disney usava o ônibus deles, já que estava hospedada num hotel deles e para ir aos outros parques contratamos um taxista que nos fez o transporte durante a estadia. Eu consigo caminhar sem problemas. Fiz os parques a pé, sentando na sombra para descanso, tomando muita água e medicação fixa para não aumentar a dor.
O que você mais gostou?
Magic Kingdom! A atração do teatro com a Bela (Enchanted Tales With Belle) foi a mais bacana de todas.
E o que menos gostou?
Ir embora 🙁
Que recomendações ou conselhos vocês dariam para pessoas na mesma situação?
Aqui no Brasil temos um grande problema que é a falta de respeito ao diferente. Existe um preconceito muito grande. No meu caso, como não aparento a dor que tenho, muitas vezes sou desacreditada, até pelos próprios médicos. O conselho que posso dar é que lá nos Estados Unidos o respeito existe e, dentro da Disney, todos trabalham pelo seu sonho. Eles sabem que independente de ser a primeira visita ou a “milésima” visita, estar lá é um sonho e eles vão fazer de tudo para que você se sinta bem e confortável. Então não tenha medo; não deixe de ir pois acha que tem limitações, se informe antes, peça dicas e realize seu sonho!
Muito obrigada, Mariana, por dividir conosco sua experiência e mostrar que alguém, mesmo que não aparente, pode ter uma doença séria e deve ter direito aos benefícios oferecidos pelos parques.
Você também pode dividir sua estória caso seja portador ou acompanhante de portador de alguma deficiência e já tenha ido a Orlando; mande-nos um email: contato@localhost.